27 outubro 2009

Memória Imunológica.

Homem é caro, homem é vaidoso,
Homem é burro, homem é genioso..
Homem é bicho que atrofia timo
mas pra mentira não produz anticorpo.

A culpa é do macrófago,
é da esperteza e da incerteza da razão,
se tão digno fosse o homem
não copiaria e entregaria como se fosse espião.

Homem não é corpo, nem tão pouco alma,
Homem não é de ferro mas o ferro lhe faz falta.
Homem se infecta, homem copia o erro,
E depois combate o que produz com desespero.

A culpa é do antígeno, merece punição.
A culpa é dessa vida, é da circulação,
Mas tudo que já foi não há de ter a volta
E tudo se protege, memória imunológica.

Enquanto o organismo nos protege, lhe matamos lentamente
Se produz o que se gasta e gastamos compulsivamente,
Transplantes, parasitas, muitas mortes tumorais
É a vida, é a morte mostrando tudo o que é capaz.

Camila Oaquim.

25 outubro 2009

Despedida.

Vai passar, sei que vai passar. Os pés que agora cismam em parar alguma hora irão andar, os olhos que agora cismam em se fechar para não enxergar a verdade uma hora irão abrir. Vai passar, sim, vai passar. Querida, iremos continuar juntos, eu e você, mesmo que eu esteja sozinho aqui.
Me peguei relembrando sua infância, as tantas vezes que acordei a noite pra te ver dormindo e ter certeza de que você estava bem, que estava viva. Relembrei as vezes que eu te levava à creche e das suas lágrimas incontroláveis quando via que eu teria de ir embora te deixando lá. Acho que nunca te contei que ao entrar no carro era eu que chorava por não querer te deixar lá, não te contei que contava as horas pra poder sair do trabalho, te pegar no colo e ouvir mais uma vez sua voz doce e baixinha dizendo “papai”.
Tentando te achar me joguei na sua cama e agarrei o travesseiro, respirei o mais fundo que pude pra sentir seu cheiro dentro de mim, coloquei aquele seu óculos que você tanto gostava, escutei aquela música que já fazia uma semana que você escutava no último volume, querida, você faz tanta falta.
Estava pensando onde que eu errei.. não errei, sei disso. Das coisas que fiz, poucas são as que me arrependo. Me arrependo de não ter feito aquele bolo que você tinha pedido porque acordei tarde demais, por não ter jogado vôlei com você na praia porque o Sol estava muito quente, me arrependo de ontem a noite antes de ter ido dormir não ter falado “eu te amo”. Como eu queria voltar no tempo querida, como eu queria você aqui, agora, pelo menos por mais um dia.. fiz seu bolo e enchi a bola de vôlei.. minha filha, EU TE AMO, você pode me escutar daí?

Camila Oaquim.
Em homenagem à
Bárbara Chamun Calazans Laino.

21 outubro 2009

Admirável.

Cavaleiro educado, homem valente e destemido cuja espada são palavras e a armadura, razão. Alguns o admiram pela beleza, outros pelo corpo escultural, pela vasta cultura, pela educação impecável, o olhar carinhoso ou até mesmo o sotaque um tanto quanto paulista que em qualquer outro não combinaria tão bem com a voz, seu timbre manso e calmo até aqueles que não gostam de R puxado e S forçado conquista.
Lá estava ele, quieto, observando tudo que acontecia, quieto, indignado com o que via, quieto, tão quieto que as palavras que passavam por sua mente explodiram em sons emitidos. Talvez por ser um poço de educação, não saiba lidar com aqueles que não conseguem ser tanto, talvez por saber escutar as pessoas tão bem quanto sabe se expressar, não saiba lidar com os que não conseguem.
Respirou fundo, não olhar nos olhos foi seu artifício para não perder o controle que já se mostrava quase esgotado pelas suas mãos tremulas, e mais uma vez respirou fundo, deu direito de réplica e escutou calado para mostrar como se deve agir mesmo ouvindo aquilo que não agrada, devolveu a ironia que recebeu categoricamente. É encantador como mesmo indignado e com raiva ele consegue ser tão admirável.
Quem se afetou com a tristeza causada pela falta de educação a ele cometida foi se redimir, afinal, ninguém se resume em um ato, somos frutos de vários e vários atos, e destes podemos mostrar nosso caráter ou a falta dele, quem não se afetou, simplesmente ouviu o som do sinal de termino como de início de corrida, corrida apostada por uma única pessoa. Não são todos que se afetam ou reagem bem a críticas construtivas.
Ele continua lá, lindamente escultural e inteligente como os gregos de antigamente citados nas histórias mitológicas, e aqui continuo eu, esperando mais outra oportunidade de admirar e analisar tão de perto esta criatura, que pode não ser perfeita, mas que a cada dia consegue mais e mais de minha admiração.

Camila Oaquim.

17 outubro 2009

Conto de Fadas.

E
la tinha seus sonhos de criança, assim como as princesas dos contos, esperava pelo seu príncipe. Se tornou mulher mas continuou criança, enfrentava o mundo de dia e se refugiava nas cobertas a noite, deitava e ficava olhando pra porta assim como quando era criança, não se sabe se pela lembrança ou pelo esquecimento, talvez ela só estivesse esperando sua mãe entrar pela porta e contar mais uma daquelas historinhas com finais felizes.
Seu príncipe chegou, não em um cavalo branco, não com uma armadura e uma flor vermelha, chegou discreto, bem de mansinho mas chegou. Ela arriscou, sabia que nunca se têm duas chances iguais, se entregou como quem precisasse do outro pra viver, apertou-lhe como se precisasse de cada pedaço em suas mãos pra ser feliz, mordeu-lhe como se quisesse tê-lo em seu paladar, gritou seu nome, matou sua fome, e entre suspiros se sentiu completa.
Ela estava completa, ela estava feliz, passou a olhar pra porta não pra esperar que sua mãe contasse contos de fadas, esperava ele pra que fizesse mais um capítulo do seu conto, conto este sem final feliz, conto cujo final era ela esperando em sua cama alguém que não chegaria, mundo moderno este nosso, o príncipe encontrou uma princesa de outra historinha e preferiu ficar com ela.
O tempo cura tudo e com ela não foi diferente, depois de alguns muitos príncipes em sua vida, ela aprendeu que não devemos esperar muito das pessoas, é melhor deixar que elas nos surpreendam positivamente do que imaginá-las mais e depois nos decepcionarmos.

Camila Oaquim.

11 outubro 2009

Diamantes.

Deixa a menina sorrir e o menino sonhar,
Vamos cantar, vamos amar..
Deixa o sol esquentar, deixa a lua esfriar
Não deixe a vida ir mas deixe o tempo curar..
Somos crianças, somos adultos..
Você é o que quer ser
Somos contidos, somos inclusos
O que diferencia é o que você quer saber.
Contos de fadas, será que nossas vidas podem ser?
Quem não sonha acordado não vê o dia amanhecer..
Enquanto ela corre pro que quer, alguém vai parar
Você tem duvida de qual sonho vai se realizar?
Enquanto uns brigam, outros correm..
Você tem duvida de quem é mais forte?
Todos podemos escolher,
tudo o que existe é tudo o que você pode ser
pode parar, pense um instante..
o que importa é que valemos mais que diamantes.

Camila Oaquim.

06 outubro 2009

Tudo é poesia.

Escutei a caixa, o som dos tambores,
escutei as rezas daquelas crianças..
tudo o que pediam, tudo o que sentiam..
casa, comida, saúde, alguém que escutasse o que diziam..
Fiquei calada, me questionava mesmo muda,
E não entendia, só me aborrecia,
Como elas sonhavam, como elas sentiam, como elas amavam..
encontravam fé, como ainda rezavam,
E sobreviviam, como elas podiam,
Como? como? como? Como sorriam?

Escutei a música, aquela batida
Que vinha e ia, rodar de peão
Me encantei com a vida, com a noite, o dia
E com a moça que dançava dando a sensação
De não ter problemas, nem medo nem crenças
Com o poder de despir-se da razão
Rosto de boneca, olhos de alegria
Corpo de mulher, fiquei em suas mãos..
Arranquei-lhe um beijo, boca quente e minha
E ganhei o mundo e tudo o que queria,
Arranhões no dia e por todos os dias..
Agora ela é minha, é minha e só minha..

Escutei os carros e o afoxé
E mais confissões de mais uma paixão,
Bocas, olhos, mãos e sentidos
Promessas no ouvido, nova canção
E dane-se o mundo, dane-se a mulher
O que importa agora é o que ele quer
Hoje é um novo dia de novas paixões
Dane-se a reza, as crianças, razões..
Tudo é poesia.

Camila Oaquim.

03 outubro 2009

Eu e você.

Não é nada pessoal querida,
apenas descobri que não me abalo com a sua ausência..
as coisas se tornam tão simples e os fatos tão sem empecilhos..
palavras soam no ar tão leves, tão puras,
sua vulgaridade não me fez muita falta.
Gosto de você meu bem, de todas as mulheres que tive ao meu lado,
confesso que você é a mais fascinante..
mas certa postura, certos atos lhe tornam tão simples,
tão normal, tão a baixo das outras.
Não quero que mude, cada um é o que quer..
e é assim que você quer ser, assim que se sente feliz,
mas isso não é o que almejo para o meu futuro.
Quem sabe um dia eu não sinta falta de suas palavras vulgares..
e você não sinta falta de meu mundo idealizado,
do amor e não do sexo ou da falta que a falta do romantismo me faz.
Seria infeliz da minha parte mudar quem sou pra me contentar com seus atos e lamentável querer que você mude pra me satisfazer,
de todas as alternativas o silêncio é melhor..
melhor poupar críticas, desgostos, mágoas,
você de lá, eu de cá..
rumos diferentes que você sabe que se preciso podem se cruzar,
quero mil homens e mil gemidos pra te fazer feliz..
espero que você queira um amor de uma vida inteira pra mim,
o vulgar pra alguns é belo, o belo pra alguns não é vulgar..
achamos que tínhamos nos encontrado mas agora sabemos o certo,
algumas coisas realmente nunca vão poder se combinar,
assim como eu e você.

Camila Oaquim.