29 março 2010

Chuva

Chegastes do nada como chuva repentina, molhou-me a secura, encharcando-me pouco a pouco e inteiramente com um misto de coragem e medo que jamais tive. Me teve tão rapidamente quanto pode me tocar e, de tão forte que fostes, entrou pelos poros antes secos como quem buscava pelo sangue um modo mais rápido de chegar ao coração. E assim se fez, teve-me e tem, apossou-se do meu amor como quem sempre soube que nele viveria. E agora, tão acostumada estou a lidar com essas sensações antes não tidas que hoje só temo o Sol, temo que tudo evapore, que sumas de mim sem mais nem porquê. Temo porque te amo, distante ou em mim, mas não tão longe quanto a saudade comece a doer e meu sangue secar.

Camila Oaquim.

24 março 2010

Hoje

Te peço o presente, constantemente no futuro hoje
E caso o amanhã chegue,
Que não me deixes esquecida no ontem.
Peço teus olhos, tua boca, teu coração,
Teus carinhos, pensamentos, teus sorrisos
E o conjunto de confusões,
Sentimentos e corpo que te montam,
Pois, tendo-te mesmo que em partes,
Talvez em ti esteja tanto quanto estás aqui,
No eu que há algum tempo já se fez teu
Domado em cada hoje passado.

Camila Oaquim.

19 março 2010

Ausência

À perda do vivo dedico a dor encontrada
Por um amor severo, que enterra meu coração
Parte em partes nas frases mal formuladas
Da mágoa do medo de boa explicação.

E a suplica ignorada, se cala e só
Tristemente largada pela crença desfeita
Para desatar, se pudesse, de todo o nó
Que se aperta contra a amarra feita.

A saudade, demasiada, a carne feri
Desmanchando em partes tristes
E doloridas o amor que já não mais diferi
O que antes dava razão ao que existe.

A existência ainda se mantendo intacta
Mas frágil e quieta como quem se esconde
Fingindo não ter coração, feito máquina,
Procura um novo futuro no antigo horizonte.

Camila Oaquim.

Arpoador

O mar negro antes pelo luar coberto
Iluminava pouco a pouco, com precisão
Minh’alma esguia com fogo incerto
Nas ondas silenciosas em solidão.

E as pedras, longínquas em sua imobilidade
Pasmam dispersas, quietas, cismando em guardar
O tanto que viram e sabem, com sensibilidade
Do que antes adormecido pôs-se a acordar.

O Sol, aquecendo o arpoador inerte
Tão esperado pelo espectador, em labor
Deu-se pouco a pouco em vários tons celestes.

E a chuva, antes estrelas a nos derramar
Indescritivelmente belas, repetindo,
Jogou-se aos corações dados em raio solar.

Camila Oaquim.

18 março 2010

Realidade Ilusória

Tão mais bela seria a preferência
Se não zelasse por preferir o errado
Fazendo o meu coração, que silencia,
Sofrer sozinho, gritar calado.

E a lágrima, jogada ao chão,
É uma simples escolha velada,
É só mais uma tristeza em vão,
Amor vilão, consciência pesada.

Seus olhos, mar sem fim
Aos poucos irão me afogar
Então esquecerei o que é ruim
Ou que me perdi por te amar.

Meu coração, acelerado
Há de desvanecer para não errar
Pois com o erro, ele parado
Despedaçou-se pra te guardar.

Tão mais bela seria a realidade
Se a ilusão não viesse me atormentar
Puxando-me para ti, a saudade,
Fazendo-me não esquecer o que não quero lembrar.

Camila Oaquim.

17 março 2010

Humana

Impacientemente tu despe-me as ideias querendo desarmar meu corpo que, como defesa, se paralisa para não denunciar minh’alma a ti entregue. O meu silêncio usado como resposta, a ti é igualmente perturbador ao teu olhar que, como o Sol, me ilumina e cega, aquece e queima sendo sereno e preciso, extremo.
De minha consciência perdida lembro pouco, tão pouco e inofensivamente como o mar prestes a engolir alguém. Os meus novos medos, agora achados, prendem-me na liberdade de um modo tão assustador que chego a desejar ser liberta-presa, já que o pouco que conheci deu-me a certeza que agora, com muito a conhecer, não tenho.
Não te uso como escapismo, não te vejo como caminho a ser trilhado. Das poucas certezas que tive e tenho, concluo os meus pensamentos não tão esperançosos como deveriam ser. Mas, estando em teus braços não há mundo, não há gente, não há medo nem problemas, tão pouco amanhã. Faço-me mais humana então, ao teu lado, não pela maior facilidade na justificativa do erro e sim exclusivamente para acertar meu erro, você.

Camila Oaquim.

12 março 2010

Ao leitor

Minha querida platéia que hoje me cerca, controla o rumo da minha vida entendendo-a como peça, claramente interrompida e questionada pelos mais próximos ao palco. Se alguém lhes disser que viver é fácil, sintam se enganados. Sejam espertos e reconheçam a tolice de mascarar a realidade sem acreditar em tal ilusão pois, caso acredite, a vida que antes era sua se tornará comédia para a platéia que, quase sempre, há de lhes julgar minuciosamente.
A tolice de acreditar na facilidade da vida não foi a minha, entretanto vim acreditando na facilidade do amor que, dia a dia, vem mostrando sua tamanha complexidade desmentindo meus pensamentos. Ora, pois se tolice tem o mesmo nome mesmo tendo diferentes justificativas, digo-lhes agora que alertei-lhes do mal que sofro. A comédia que antes protagonizava, de tão escandalosa e contínua acabou normal e sem graça à platéia que já deixou de rir para se apoderar das decisões que me caberiam.
Se isso me irrita? Claro, mas não haveria porque gastar-lhes o tempo da leitura descrevendo a minha insatisfação. É preciso força, muita força para deixar de ser espectador da sua própria vida para ser autor, protagonista e crítico satisfeito. Mas como já lhes alertei a vida não é fácil, não querendo dizer que é de todo difícil, a arte de viver é justamente saber estar ao palco tanto quanto na platéia. É preciso peça, mesmo que sem rumo, arte mesmo que sem uma interpretação adequada, pois o tempo de acertar ou errar só existe enquanto as cortinas não se fecham e, acredite, destas ninguém sabe.

Camila Oaquim.

03 março 2010

Fantasma

Sou como um fantasma ou algo parecido,
Queria te abraçar agora
Mas algo me diz que você não vai sentir o calor do meu corpo
Que vai passar por dentro de mim
Sem sentir que perto de você fico mais quente,
Sem me ver, sem me amar.
Então tento invadir seus sonhos
Me sinto tão impessoal, tão ninguém
Corações partidos, amores perdidos
Talvez doam menos que amores impossíveis.
Quem disse que fantasmas não sentem,
Não amam, não choram?
Fantasmas sentem dor, apenas não morrem.
Ilusão, morro todo dia
E acordo no dia seguinte pra morrer de novo.
Me procuro todo dia e corro em direção a nada,
A tudo, tudo que me lembre o que já fui
E me pergunto “o que foi que aconteceu?”
“o que estou fazendo aqui?”
Não é frustração, estou bem
Estaria, qualquer um estaria no meu lugar
Mas é como se eu corresse e nunca chegasse
Tentasse sem conseguir alcançar.
Não sei como agir, não sei o que pensar
Ao mesmo tempo que quero me entender
Quero correr de mim o mais rápido que eu puder,
Até que eu morro, morro de tristeza, de saudade
E tudo volta a ser como antes, eu paro
Mas aconteça o que acontecer o mundo vai continuar
Com ou sem mim, então eu ando sem saber pra onde
Sem saber o porque ou se vou voltar
Mas se tudo der errado, não vai piorar muito.

Camila Oaquim.

01 março 2010

A Saudade, a Esperança, o Amor

Saudade dói mais não mata
Revive, reata
E quando muita, angustia
Ingrata, vadia
Não nos prende, não solta
Só vai, só volta
Não divide, não soma
Refaz , retoma.

A esperança alivia
Mantém, sacia
Consola o rosto tristonho
É realidade, é sonho
Dá paciência a espera
Verdade sincera
Não dá certeza nem dúvida
Alivia, ajuda.

O amor mata, mas de felicidade
De esperança, saudade
Dá razão ao que não se entendia
Junta justiça e covardia
Dá chão e asas
Silêncio e palavras
Dá a certeza da soma
Nos liberta, nos doma.

Camila Oaquim.