18 agosto 2010

Canudos

Oxê, que venham os cinco mil soldados!
Mas se for pra morrer, que seja morte digna, aonde já se viu morrer de tiro...
Diz, como posso eu morrer de tiro se assim não vou pro céu?
Vou ficar aqui, em pé até meu último minuto, se cair levanto, se machucar não olho, se doer esqueço e se não esquecer eu rezo.
Que matem as crianças, os idosos e as mulheres então, mas que só façam isso por cima do meu cadáver, não sou homem de ver os meus apanharem sem fazer nada, nem de ver nossa terra ser tomada e deixar. Soldados covardes!
É! Nossa terra! Qual o problema deles com isso?
Existe algum mal em dividir ou em viver com pouco mas em paz? Se tem, então que venham os soldados me matar... que venham!

* ...e eles vieram... *

Quem morre à tiro não vai para o céu, quem foge da briga também não. Vida difícil essa do sertanejo que por mais difícil que seja se torna pior, e que depois de pior ainda se tem que lutar pelo resto de vida que sobrou até a morte.

Camila Oaquim.

12 agosto 2010

Severino

Lá está a vela sobre a mesa e junto a ela, ele, velando aquela imensidão de ausência. Casa cheia e prato vazio, costume da família que de concreto só tinha o não ter. Em proporção inversa à esperança vinha a pobreza claramente imposta pela matemática sempre de resto zero. Ele corria contra o tempo enquanto a família se deixava levar, a pressa de viver agora tinha a calma que as pessoas ganham ao ter uma subvida. Às vezes é melhor desistir, talvez nesse caso fosse mas ele não desiste. Prometeu junto ao filho caçula em leito de morte, enquanto este perguntava sobre a existência de comida no céu, que não iria desistir de oferecer a tal abundância de alimento aos demais filhos que naquele momento sofriam tanto junto a ele. Desde então, de Sol à Sol lá está ele trabalhando sem parar, suas rugas sofridas, seu andar cansado e seus calos na mão evidenciam seu esgotamento físico, mas nem por isso ele pára. É esse o mundo em que vivemos, onde quem mais precisa não consegue ter, aonde se trabalha mais do que pode e ainda assim o prato vazio se mantém. Seu conforto é em ultima das hipóteses, ter certeza de que depois de tanto sofrimento, ao chegar no céu ele não passará fome junto ao seu filho. À sua mulher. A Deus.

Camila Oaquim.

11 agosto 2010

Passos

Passos constantes e inseguros
São o que se vê pra lá e pra cá,
Nesse vai e vem de pernas
Que vi se coração parado fazer o meu acelerar.

De longe, inquieta pelo que via
Vi e só vendo me contentei
Esperando os passos do destino
Encaminharem-me para onde ainda não andei.

Caminharam e cheguei!
Abraçando esses passos que lhe abracei.
Seu coração mais perto, me acalmei!
E tive muito mais certeza de tudo que pensei.

Nossos passos, alheios aos outros
Tão firmes e agora tão seguros
Trilham o caminho que queremos
Sem precisar de planos futuros.

Agora se pode ver claaramente
Nossos destinos andando colados
E esse nosso amor tão bem guardado
Em nossos braços sempre abraçados.

Camila Oaquim.

05 agosto 2010

Concreto

Engraçada essa inércia que toma o meu corpo quando você toma meus olhos. Sinto-me tão bem e incapaz ao mesmo tempo, acho que é insegurança. Minhas pernas curiosamente seguem em sua direção e o sorriso estampado ao rosto só desaparece enquanto minha boca é sua. Meus braços em seus ombros repousam e ficam lá enquanto os seus envolvem-me no abraço mais gostoso que já ganhei na vida. E, com essa carinha de criança e esse cabelo desarrumado, esse olhar meigo e essa voz gostosa, exatamente assim desse jeito que você é que sou feliz, que você me faz feliz assim.
Diria a você que me tem pro que precisar, quando precisar... sempre, mas palavras são tão previsíveis e só, e esse sentimento por você é tão obviamente consequente do fato de ser você a pessoa além de mim que prefiro não dizer. Deixo que sinta o que sinto, consegue sentir cada detalhe dessa imensidão?
Então fecha os olhos, espera que já chego. Minhas pernas continuarão caminhando até você e meus braços irão pros seus ombros como que reconhecendo o seu lugar. Espera que minha boca já chega até a sua e o sorriso até ela. Sente, só sente isso mesmo que inerte à felicidade feito eu.

Camila Oaquim.