10 novembro 2012

De volta à felicidade ou de volta ao erro?

       Então o tempo passa, algumas coisas voltam pro lugar e outras se encaixam de uma nova maneira que lhe faça sentir tão confortável quanto antigamente. Se sentir em casa de novo depois de um longo e cansativo dia, é essa a sensação. Mas poucos percebem que nossa casa é o lugar de onde não partimos, apenas saímos. Não, não há nada de ruim nisso, apenas se sentir de volta a casa é algo muito subjetivo. Apesar de sentir alívio e felicidade, em certas situações essa sensação pode querer dizer que estamos andando em círculos, sempre e sempre voltando ao mesmo lugar. 
       Devemos estar sempre dois passos à frente, ser donos de nós mesmos, ser certos até mesmo na escolha errada. Devemos muito e o tempo.. bem, o tempo nos cobra muito. Temo às vezes, muitas vezes. Talvez pelos meus sentimentos à flor da pele, pelos medos, mágoas e dúvidas. Talvez pelos mesmos sentimentos tentando me fazer acreditar nos mesmos romances batidos de finais felizes.
       Sei, sei que sou dessas que constroem castelos belos de areia impulsivamente e depois por raiva do vento que ainda nem apareceu chuta e faz de tudo nada mais do que um bolo de areia. Cada um tem a sua maneira torta de voltar pra casa, de se sentir confortável ou com medo de se sentir assim, de deixar o tempo passar. Só queria conseguir sentir mais uma vez a sensação de estar chegando em casa sem me julgar por estar andando em círculos.

28 outubro 2012

Bem, obrigada!

E então percebemos que a felicidade nada mais é do que o prazer de remendar tudo o que a tristeza fez virar trapo. Felicidade é vestir a roupa dada como perdida e perceber que nada lhe cairia melhor.

Camila Oaquim

18 outubro 2012

O Adeus


          Enfim juntos. Compramos nossa casa, trocamos alianças e passamos a dividir a mesma cama durante todas as noites. Acordávamos bem cedinho, ele mais do que eu. Enquanto já estava acordado tomando banho eu levantava, fazia nosso café da manhã e entre os mil beijos de bom dia que ele me dava e o café com leite que fazia para ele do jeito que preferia – mais café que leite – ele sorria e dizia que me amava antes de levantar para escovar os dentes e ir para mais um dia de trabalho.
          Depois de sua partida quem ia era eu, tomava meu banho e ia ao trabalho. Também chegava antes dele, então fazia o jantar enquanto via televisão me divertindo com a programação humorística que na verdade só me fazia rir pela constante falta de humor. Quando nem esperava ele abria a porta, sorria, sempre sorria. É fácil escutar a sua voz dizendo “Boa noite, meu amor” se eu forçar um pouco a memória.
          Os dias passaram, passaram os meses, os anos.  Os trabalhos cada vez mais cansativos e cobrando mais de nós. Tão empenhado o meu rapaz, conseguiu um dos melhores cargos da empresa e apesar de cada vez ter menos tempo estava radiante. Indo por outro caminho também disparei no mundo dos negócios, só que agora eu tinha a liberdade de trabalhar grande parte do tempo em casa.
          Cada vez me deixavam mais triste as suas partidas, eram tantas viagens de negócios que ele tinha de fazer, tantas idas e vindas que o nosso simples café da manhã aonde ele me jurava o amor que sentia passou a ser algo extraordinário. Nem me lembro a ultima vez que fiz nosso jantar, não sabia mais a programação da TV. Na época me falaram que tinha uma novela boa, todos estavam assistindo, mas na verdade eu não sabia nem o nome. Estava tão entretida com os meus conflitos, tão obcecada por ter de volta o que éramos antes que nada mais me passava pela cabeça.
        Conversei com ele. Tão grande mas comigo parecia uma criança agarrada à saia da mãe nas conversas sérias. Enquanto dizia que me amava eu retribuía a jura tentando explicar que o problema não era o amor, era como estávamos levando - ou deixando de levar - a nossa vida à dois. Ele prometeu ficar mais, não ir e vir como se não tivesse alguém esperando. Eu acreditei, acreditei sim, até que ele foi uma, duas... quatro vezes em menos de um mês. Presentes não faltavam, telefonemas também não. Mas preferia a vida sacrificada que levávamos antes.
         Lá ia ele mais uma vez, chorei quieta. Ele pareceu sentir também, chorou enquanto dizia que voltava logo e que também sentia muito por tudo isso. Depois do beijo de despedida ele foi. Despedi-me dele, da TV que não via mais, da cozinha que há muito não precisava habitar diariamente e da casa aonde tive e perdi meu grande amor. A aliança deixei na mesa em cima da carta que escrevi dizendo que estava cansada de despedidas, e esse foi o último adeus que tive de dar.

Camila Oaquim

29 setembro 2012

O longo Caminho Até Aqui


Por quantos tropeços caí até aqui
Em quantos nós me enrosquei dentro de ti
Debrucei, chorei, agarrei-me com toda força
Como uma moça sem pudor algum.

Afobei-me em querer tua presença
Tive tua mão aqui na saúde e na doença
Empenhei-me, fui à cozinha, fiz teu café
Como dona de casa, tua mulher!

E aos poucos que fui vendo...
Tão aos poucos entendendo...
Já era tua sem saber, sem crer ou entender.

E aos poucos fui morrendo...
Tão aos poucos renascendo...
Cumplicidade vem do chão e vai crescendo...

E vai crescendo...
E de repente gera frutos, contorna arbustos, vira árvore.
E vai crescendo, enraizando, deixando marcas.

Em todas elas gravei-te em mim
Tuas vindas e idas, teus choros sem fim
Ficou apenas teu riso de satisfeito
Com os erros meus, tua mulher sem defeito.

Camila Oaquim

09 setembro 2012

Metalinguagem? Talvez, Palavra!


 Encontro-me aqui novamente, desta vez tentando tapar aos poucos os diversos buracos causados por minha ausência.  Crescer não é tão divertido quanto aparenta ser enquanto estamos sentados em frente à TV vendo a sessão da tarde esperando incansavelmente para sermos adultos e podermos ser iguais a algum daqueles super-heróis ou então grandes o suficiente para ter uma daquelas paixões avassaladores de finais felizes.
Apaixonei-me, tanto quanto os adultos dos filmes, e de maneira animalesca o impulso por diversas vezes tomou conta de todo o meu ser que, felizmente ou não, parecia a todo instante ter a consciência em forma de coração. Não me arrependo de nada, não vejo motivos para tal desatino (desatino sim, como pode alguém se arrepender de algo pelo que tanto esperou?).
Aconteceu que percebi que o amor não é a única coisa que caracteriza os adultos - tolice infantil- e os deveres, e os medos, e as lágrimas, e a falta de tempo tomaram-me todo o espaço guardado com tanto afeto e mil cuidados para o meu benzinho. Quis largar tudo por inúmeras vezes, várias mãos me foram estendidas, e ombros, palavras confortantes, tudo menos você, meu amor.
Pensei então que teria sido tudo em vão. Quanto tempo perdi nessa longa caminhada, meus Deus! Poucos sabem o quanto foi difícil dar o próximo passo e, com certeza, todos já perderam a conta de quantos próximos passos foram necessários. Mas cheguei finalmente e aqui está você, de braços abertos me esperando. Como pude não perceber sua presença a cada instante? O mais puro amor, a mais sincera amizade, essa nossa paixão com certeza é a história mais linda dentre todos os filmes que vi até hoje. Nosso final? Não sei, adultos se preocupam muito com o futuro. Enquanto isso vivo o presente tatuando diariamente em nossas vidas palavras sinceras do nosso amor.

Voltei, meu bem.
                  Eu voltei!

Camila Oaquim

26 fevereiro 2012

Mulher

Sou mulher. Mulher desde que avistaram-me o ventre.
Sou mulher desde as bonecas ao salto. Do contra também.
Mulher travessa! Das meninices às bolas de futebol,
dos medos do escuro aos segredos mais preciosos.
Mulher com direito a dias de glória e dias de choro na cama.
Coisas de mulher... Não lhe garanto entendimento.
Mas, nos tempos modernos, ando tão mulher que me confundem.
Mulher também trabalha! Mulher também é independente!
Mulher isso, mulher aquilo... Ainda sou mulher, sabia?
Só que mulher na essência. Daquelas que gostam de mimos,
de carinhos, besteiras ao pé do ouvido. Ah, mulher!
Daquelas que choram de felicidade e sorriem mesmo morrendo,
que esperam mesmo que negando por um grande amor,
que se importam com datas significantes, que amam,
que chamam, inflamam de desejo e no ápice de tudo,
sim, que esperam uma aliança como prova de amor.
Mulher que mesmo sabendo que não se prova assim,
se sente provada por carregar tamanho compromisso ao dedo.
Sou mulher, meu bem! Não se esquece!
Minhas memórias, meus dedos e meu corpo esperam que se lembre.

Beijos saudosos, sua mulher!

Camila Oaquim