Ela.

Ela fala, fala
é curioso o jeito com que lida com o mundo
da porta de casa pra fora nada lhe aflige tanto
até a hora que se revolta e tudo começa a ser motivo de escárnio
Reclamou, apontou defeitos
criticou o mundo como se eu não existisse
será que ela não percebe que pode pagar pela língua
não é claro que o futuro nos prega peças?
Não está na cara que eu hei de errar muito ainda?
Ela reclama, se ofende
diz que me fecho muito, que me calo muito,
diz que não ligo pra família
será que não é claro que sentimentos podem existir
mesmo não sendo expressos?
As vezes me julgo errada,
sinto remorso, as vezes fico calada
mas de que adianta eu mudar?
de que adianta eu fingir forças que não tenho pra continuar?
Acho que ela se irrita com o meu ceticismo,
talvez eu não tome a postura certa sobre a vida
mas não posso acreditar naquilo que acho não existir.
Tempo ao tempo,
quem sabe precise da minha vida toda pra ela perceber
que por mais que eu tente,
o erro que hoje não é meu, amanha pode ser.
Faço parte dela, e ela, faz parte de mim
as vezes sinto-me água no óleo
as vezes acho-me perdida, perco-me achada.
A vida continua, os pensamentos dela não mudam,
caminhos um dia irão se bifurcar
mas o carinho que hoje guardo, sempre hei de guardar
pois as diferenças, se não aprendemos agora,
com certeza no futuro iremos aprender a respeitar.

Camila Oaquim.