25 março 2011

Mariana

Dedico a ti a forma mais cuidadosa de amar alguém. Relembro que ter cuidado não é anular o erro. Amar é querer ter perto alguém. Em grande parte das pessoas é querer viver junto, dividir coisas poucas e cotidianas como um almoço ou uma tarde, fazer de coisas inéditas ao mundo comuns ao amado, como segredos saindo da boca com naturalidade e confiança.
Amar é essa vontade descabida de ter o outro, de saber do outro, de controlar o outro durante as 24 horas do dia (não por mal, é claro). É querer tanta proximidade a ponto de podermos caracterizar pela vontade de dois serem um só. É isso, meu amor, dedico a ti essa minha vontade descabida de estarmos tão perto e felizes a ponto de ser uma só pessoa.
Amor cuidadoso, sim. Cuidadoso pelo fato de ser tão grande a ponto de me tirar a razão às vezes fazendo o ciúme não me deixar pensar. Eu cuido, cuido ao máximo pra que possa continuar dando meus beijos e abraços e recebendo teus sorrisos e promessas de amor. Cuido pra que palavras não sejam apenas ditas, que verdades não sejam apenas jogadas, que “pra sempre” não seja apenas coisa abstrata.
Este amor é assim, incontrolável, forte, cultivado. É criação, dia a dia, de duas vidas em um rumo só. É texto de várias frases (e um tema), frase de vários verbos (similares), palavra de várias interpretações (mas significação única). E neste amor, de tantos prós e contras, de tanto medos e lágrimas, certezas e risos, que encontro todos os dias a razão de estar aqui. Não sei se sabes, nem sei se há como explicar, mas são mil e uma razões que levam a um único ponto, à ti.

Camila Oaquim

21 março 2011

Japão

Sentindo-me Deus, criei um mundo só meu
Aonde tecnologias avançadas destacavam-se,
Aonde o tempo era sempre pouco e útil.
Fiz as maiores descobertas, reconheço.
De humildade não preciso, me garanto, eu sei.
Ninguém podia me parar, não iriam me deter
E quem fui ninguém chegaria a ser.
Subestimei o mundo, confesso,
Agora, que tristeza, voltei à partida.
Perdi tudo que construí, matei os meus filhos,
Não há mais criação brilhante que nos salve.
Agora a natureza tirou-me o poder,
Tirou-me a dignidade e a independência.
Vejo os meus com fome sem pra onde ir,
Crianças medrosas nos únicos colos que restam
E repenso, aonde estava que não nos salvei,
Que não repensei, que não protegi?
O que me resta é solidariedade dos outros
E curioso, esta eu nunca soube produzir.
Aos poucos espero reconstruir tudo,
Mas por tudo que vivi agora, tenho certeza,
O principal é reconstruir eu mesmo,
Não em riqueza, em pensamentos
Afinal, descobri que não sou nada.

Camila Oaquim

20 março 2011

Projetando importâncias

É constituída pelas grandes escolhas aos mínimos detalhes essa projeção a qual denominamos futuro. As pessoas se preocupam em projetos grandes, em realizações de sonhos e em lutas desesperadas e desfreadas àquilo cujo merecimento, reconhecimento e remuneração serão satisfatórias. Ando perguntando-me –satisfatórias à quem?
Quanto mais criticamos a desigualdade do capitalismo, a crueldade e impunidade do mesmo, mais fortalecemos a ele. Satisfazemo-nos em nos gabar por aquisições, por cargos, pelo dinheiro que ganhamos. Colocamos isso como meta e base de tudo, colocamos tanto e tão discretamente essa posição vencedora à nossa luxuria que se pararmos pra pensar desde quando isso é nossa meta não saberemos.
Vem da criação –talvez- ou quem sabe dos primórdios da nossa sociedade aonde dinheiro é sinônimo de felicidade. E como de costume pais ausentes para manter suas famílias em boa condição financeira usam como boa e velha desculpa o “se não estou sempre aqui é para manter todos nós”, agora mães engajadas ao trabalho e à melhor perspectiva de vida tanto como a luta pela igualdade dos sexos também se encontram ausentes àquilo que chamamos família.
A questão em si não é a crítica ao capitalismo ou às pessoas querendo ganhar dinheiro, essa crítica, meus caros, vai àqueles que esquecem que o “hoje” ainda existe, assim como a família e as pessoas a quem amamos. Sim, devemos visar um futuro cujo dinheiro não falte, aonde possamos esbanjar conquistas e outras dessas coisas que hoje valem mais do que quem somos – e aí entra outra questão já que, pelo menos pra mim, quem somos não se resume àquilo que temos- mas não podemos esquecer que perder o presente visando um futuro não é algo que deva ser nossa meta exclusiva já que ninguém tem a certeza de que amanhã vá chegar.
Na vida, creio eu, temos tempo pra tudo. Essa história de correr contra o tempo é balela daqueles que tem medo de não ter tempo pra viver tudo o que querem sem perceber que estão perdendo o tempo todo correndo sem alcançar. E nessa de correr, acaba-se idealizando tanto o que se quer que por bobeiras, que só enxergadas depois, as pessoas perdem o que mais pode importar futuramente. Alguns dizem que é possível ser feliz sozinho, já eu –pode até ser infantilidade- prefiro trilhar o caminho mais longo acompanhada do que correr sozinha e depois só ter a lembrança de pessoas que passaram por mim.
Os detalhes da escolha estão justamente em como fazemos pra realiza-las. Satisfazer aos outros não é algo que me faça sempre feliz. Ser feliz, isso sim é prioridade. Prefiro a presença do que a quantidade, o abraço apertado e a conversa boba no lugar do nome ou do salário. É tudo questão de tempo, sim, tempo para as prioridades, tempo para satisfazer a alguém ou a nós mesmos sem deixarmos de lembrar o que realmente é importante. São detalhes, meu caro, são só detalhes. E então, qual a sua prioridade?

Camila Oaquim