29 maio 2011

Cria

Tira minha dignidade, meu pudor,
as roupas do corpo, o corpo de mim.
Tira minha voz e minha verdade,
prenda minhas mãos, fica em mim.
Rouba meus medos, joga fora,
com minhas respostas desaforadas.
Rouba meus beijos e súplicas,
promete que não vai embora.
Me tira a moral, me joga no chão,
me puxa, me prende, me solta.
Brinca comigo, fica comigo,
Faz eu me sentir única outra vez.
Tira minha opção de partir,
diz que sou sua e que não posso ir.
Me faz esquecer que sou racional,
me prende em sua vida como animal.
Pra sempre, pra sempre, amor,
me cria, me cuida, pra sempre, amor.

Camila Oaquim

A pedra, a embarcação

Desmancho-me em rio, amor
Em sal de pranto desfaleço.
Insistes que não me compadeço,
perceberás só quando me for?

Forço-me em ser maleável,
Engulo choro, engulo tristeza,
esses sentimentos por natureza
mas o medo é inapagável.

A ponta da faca em minha mão.
O cansaço das reclamações,
as mais mil e uma citações
e, enfim a faca vai ao coração.

Se está tudo errado? não sei.
O tempo passa mas tudo volta,
pergunto-me, onde mesmo errei?

Em mim navegam tantas frustrações
nesse meu rio-pranto de tantas lágrimas.
Talvez eu atravanque outras embarcações.

Camila Oaquim