24 abril 2011

Amor

O que faço?
Adio o ponto com vírgulas.
Cresço frases com adjetivos,
pronomes, verbos.
Mais substantivos, por favor!

O que faço?
Escrevo compulsivamente.
Mudo rumos, prosas,
tudo pra não declarar,
não aceitar, acabar no fim.

O que faço?
Derramar tinta dos olhos
nas letras sofridas do papel.
Começar do fim
a história que se enrolou.

Eu faço!
Uso o meu mais fino idioma.
Escrevo com mais lindas palavras,
uso ponto e vírgula, reticencias,
virgulas, mas nunca ponto final.

Camila Oaquim

07 abril 2011

Antagonia

Estamos a tanto tempo juntos que mudamos e, incrível, esquecemos de nos reapresentar. Prazer, pode me chamar de escada. Sim, escada. Consistente, forte, firme. Pessoa silenciosa que só responde aos seus sons emitidos nas subidas. É assim, o tempo todo sirvo pra que você se escore, pra que mesmo sem querer você suba nesse movimento ritmado e cansativo, subindo em mim, pisando em mim e me vendo, às vezes, somente como passagem pra onde quer chegar. Reclama do esforço, do peso do seu corpo sem perceber que me aguento e lhe carrego sem reclamar. Sentada em mim chora suas mágoas, em pé sobre mim comemora alegrias, às vezes me segura, às vezes me olha e fala sem recíproca as mágoas da vida. É realmente assim, seus deveres, suas vontades, seus atos e meu silêncio, e meu carregar calado e sofrido. Espero sim, meu bem, carregar ao máximo as suas vontades, fazer com que você se eleve e sorria. Espero sim, amor, ter força pra continuar sendo pisado na ferida. Camila Oaquim

01 abril 2011

Linguística

-“Ele é um bom partido, querida.” Dizia a mãe aflita ao ver a filha rejeitar o rapaz que mais lhe agradava no meio desse leque de opções encontradas hoje em dia, principalmente em cidades grandes.
Partiam-se as opiniões, a mãe nervosa tomava partido da boa causa, o futuro bom da filha em jogo. A menina, por outro lado, partidava-se ao próprio querer que, depois de ter o coração partido, dizia não querer mais ninguém.
Constante e precisa no discurso, a menina sem nem serem necessários muitos pensamentos respondia –“se, então, ele é bom partido, que parta para alguém do partido dos carentes, não preciso de ninguém”, e como nas dores do parto a mãe sofreu, em silêncio desta vez, esperando que partisse da filha uma postura sensata.

Camila Oaquim