16 maio 2014

Alguém

    João gostava de mulheres cultas, não tão magras mas jamais com peso em excesso. O linguajar cotidiano da maioria de outro nível social que não o dele ou daquele que, para ele, se classificava como superior lhe causara sempre uma repulsa contida.
    Por infinitas vezes teve casos com mulheres que julgara ser seu tipo. Pobre João, seu relacionamento mais longo, se é que se pode denominar aquilo relacionamento, foi de pouco mais de quatro meses.
    Não se pode dizer que por isso João passou a ser uma pessoa desacreditada. Cabreiro, sim. Sua lista de exigências para a possibilidade de um futuro flerte cada vez se prolongava mais nas linhas de seu caderno de críticas imaginário.
    Seus amigos que, se não casados já se  encontravam a poucos passos disso, indagavam-lhe o por quê de tantas precauções. João não sabia responder, também não mudava, sempre achou arriscado demais dar a cara a tapa assim. Se com tantas exigências teve seus quatro meses tão sofridos, que diacho de vida levaria se abrisse a guarda para alguém com padrões que não os esperados por ele. O que João não sabia é que o acerto às vezes vem de sucessões de erros.
    Alguns dias podem não ser como esperávamos, mas aquele dia para João a cada minuto se tornava pior. Após baterem em seu carro no meio de um trânsito infernal e ter de esperar horas até conseguir resolver tudo, finalmente pôde voltar pra casa de metrô.
    Duas coisas que detestava, uma ainda mais que a outra. Seu carro e seu emprego lhe eram sagrados, assim como suas exigências rebuscadas quando tratava-se de mulheres.
    Mas foi assim, no meio de uma estação lotada a espera de um metrô que, por contraditória sorte, encontrava-se com o ar condicionado quebrado, que João conheceu Ana. Não alta mas não tão baixa, um pouco acima do peso e sem nenhum dos atrativos que chamariam a atenção dele. E por mais  contraditório ainda que seja, foi assim que uma mulher pela primeira vez desde seu grande fracasso pessoal relacionado ao amor fez João se ver realmente interessado em alguém.
    Vai João, não se afobe! Não há regra no mundo que nos restrinja a felicidade por esteriótipos ou linguajar. Vai, João! Que as cultas talvez já saibam demais para ter que aprender a lhe amar.

Camila Oaquim

06 maio 2014

Rapaz

Queres mas não buscas,
Choras e estagna
O que houve, rapaz?
Não sufoques a menina!

Há pranto excessivo
Mil palavras sem motivo
Há juras descabidas
Para verdades tão sentidas

Há raiva desmedida
Mil medos sufocados
Será que nao percebes, rapaz
Que ela também sofre um bocado?

Pois queres mas não mudas
Impõe-se pessimista
Ela queria, mas não pode
Dizer que não desista!

Camila Oaquim